quinta-feira, 11 de outubro de 2007

O ensino e a tecnologia

COMPUTADORES CONTRA O ENSINO
Expresso, 22.09.07
Nuno Crato

Há uma corrente pedagógica que se fascina com a tecnologia e acha que calculadoras, quadros interactivos e computadores são a solução para os problemas do ensino. Um exemplo dos danos causados por essa corrente foi a promoção das calculadoras em detrimento do cálculo mental. O problema, como é óbvio, não está na tecnologia mas na maneira como ela é utilizada.
O deslumbre provinciano pela modernidade, no entanto, esquece esta verdade simples. E não quer aprender com os erros dos outros. Estudos vários (v., e.g., Educ. Studies in Math., 56, p. 119) apontam para o abuso das calculadoras como um dos factores de insucesso escolar.
E, nos EUA, país que há uma década promoveu a generalização dos computadores portáteis nas escolas, assiste-se neste momento a uma marcha atrás acelerada. Vale a pena, por exemplo, ler o informativo artigo «Seeing no progress, some schools drop laptops», publicado no «New York Times» em 4/5/07 e acessível gratuitamente pela Internet. Directores de escolas, professores e pais classificam a generalização dos computadores nas salas de aula como uma «distracção para o processo educativo». Um estudo do IES (NCEE 2007-4005) não encontrou melhorias nas aprendizagens de matemática e das línguas devidas ao uso de computadores. E o grande mentor da introdução de portáteis nas escolas, Mark Warschauer, professor e autor de «Laptops and Literacy», viu-se recentemente obrigado a confessar que, «quando se trata de elevar os jovens aos patamares fundamentais, talvez os portáteis não sejam o caminho».
É bom usar computadores, mas é perigoso deslumbrarmo-nos e julgar que eles vão resolver os problemas básicos do ensino.

Sem comentários: